Na sexta-feira (1º), veio à tona que a ex-modelo e empresária Luiza Brunet havia denunciado o ex-namorado, o empresário Lírio Parisotto, por agressão. A notícia causou uma forte repercussão, tanto pela brutalidade da violência sofrida pela atriz quanto pela classe social dos protagonistas da história. De acordo com as especialistas entrevistadas pelo UOL, a surpresa é embasada por um mito que persiste quando o assunto é violência doméstica: o de que apenas mulheres de classes baixas passam por isso.
“Nós que trabalhamos com esses casos presenciamos situações dessa proporção constantemente. O grande diferencial de ter uma figura como a Luiza denunciando é a desmistificação de que a agressão contra a mulher só acontece na periferia”, afirma Silvia Chakian, promotora de Justiça especialista em violência doméstica do Gevid (Grupo Especial de Enfrentamento à Violência contra a Mulher), do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Não existem estatísticas sobre o perfil das vítimas de violência doméstica, como classe social e faixa etária, mas Silvia diz que mulheres de todos os nichos da sociedade são afetadas. “No meu dia a dia, atendo pessoas tanto da região central de São Paulo quanto de bairros nobres, como Perdizes e Higienópolis.”
Segundo reportagem publicada no jornal “O Estado de S.Paulo” em abril, uma em cada cinco mulheres agredidas na capital paulista pertence à classe média ou alta. Os dados foram divulgados pela SSP (Secretaria de Segurança Pública). Para a promotora, esse tipo de violência está enraizado em questões culturais e machistas que ainda permeiam a sociedade e que fazem com que a mulher seja vista como propriedade do homem, sem direito de escolha.
A coragem de Luiza (que assumiu sentir vergonha de denunciar) enquanto mulher e figura pública contribui para o debate contra a violência, na opinião das especialistas. “A atitude dela é um exemplo para milhares que passam por isso todos os dias. Romper o silêncio dessas mulheres é o nosso maior desafio. Luiza ajuda muito trazendo seu caso à tona”, fala Jacira, diretora de um Instituto voltado à comunicação e diretos das mulheres.
A promotora do Gevid Silvia Chakian enfatiza que o exemplo da ex-modelo ampara aquelas que têm medo das consequências de querer se defender. Em 2013, última pesquisa feita pelo Instituto em parceria com o Data Popular sobre a percepção da sociedade sobre a violência e assassinatos de mulheres, mostrou que 85% dos entrevistados concordam que aquela que denuncia o parceiro corre mais risco de ser assassinada.